Capacitadas por curso gratuito, cariocas carentes põem a mão na massa, conquistam clientes e dispensam trabalho com carteira assinada
Foto: Divulgação Projeto Mão na Massa RJ
Embora usem uniformes azuis, as alunas são mais
conhecidas como “Esquadrão cor de rosa” |
Para muita gente, reboco, contrapiso e chapisco são atividades da construção
civil que resultam exclusivamente da mão de obra masculina. Foi-se o tempo. Aos
poucos, esse imaginário começa a ganhar novos contornos, e eles são femininos.
Atentas às oportunidades nos canteiros de obras, onde o salário inicial é de R$
900 e pode chegar a R$ 1.500, mulheres marretam o preconceito e se qualificam
cada vez mais. "As construtoras afirmam que as mulheres compensam a falta de
força física com o capricho. São mais detalhistas, organizadas e evitam o
desperdício", diz Norma Sá, coordenadora do Projeto Mão na Massa - Mulheres na
Construção Civil.
No Rio de Janeiro, desde 2008, mais de 300 alunas foram formadas pelo
projeto. Segundo levantamento do próprio curso, cerca de 50% delas entraram para
o mercado formal. “Fomos surpreendidos, a recepção das construtoras está sendo
boa”, comemora Norma.
Geisa Moura, de 36 anos, não só entrou para o time dos contratados como
permaneceu entre eles. Atualmente, ela trabalha na remodelação do estádio do
Maracanã, mas acumula experiências nas obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) do Alemão. Telma Cristina Viegas Ribeiro, de 42 anos, é outra
que se manteve na profissão depois de passar no primeiro canteiro. “Não
imaginava ser carpinteira profissional. É diferente e o mercado é bom”, diz
ela.
“Quero abrir minha empresa”, diz pintora
Pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) realizada
junto a 607 empresas de todo País revelou que no primeiro semestre de 2011 “53%
delas não obtiveram sucesso na tentativa de preencher os postos de trabalhos”. A
falta da qualificação foi relatada pela maioria das empresas (90%), sendo que
28,5% pertenciam à construção civil.
Diante desses dados, pode parecer difícil compreender por que a outra metade
do grupo de mulheres formadas pelo projeto Mão na Massa ficou sem o registro na
carteira. Mas a justificativa é animadora: “Muitas, por opção, resolveram seguir
a carreira de autônoma em busca de melhores salários e de tempo para cuidar da
família”, diz a coordenadora Norma.
Marília Silva Valadão é uma delas. Aos 32 anos, recém-formada como pintora,
ela dispensou três propostas de emprego que lhe dariam até plano de saúde.
“Trabalho por empreitada, é mais negócio”, garante Silvia. “Ganho mais como
autônoma. Acabo de fechar um contrato de R$ 800 para pintar dois quartos de uma
casa. Em uma semana eu fecho esse serviço. E já tenho outros agendados”, ela
comemora.
Capacitação é gratuita
Para se tornar pedreira profissional é preciso enfrentar 460 horas de curso,
que tem seis meses de duração. As alunas aprendem funções de eletricista,
armador, carpinteiro de forma e pedreiro, e também participam de aulas de
português e matemática. “A gente trabalha com mulheres em situação de
vulnerabilidade, que ganham entre R$ 150 ou R$ 200 por mês como diaristas ou
catadoras de latinhas”, diz Norma.
Durante a capacitação, as aprendizes recebem lanche, vale-transporte,
vestuário profissional e equipamento de proteção individual. Depois de formadas,
ganham certificado validado pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) e um kit de
ferramentas. “Para facilitar a entrada delas no mercado de trabalho”, explica a
coordenadora.
As inscrições só podem ser feitas por mulheres que tenham entre 18 e 45 anos
e que possuam diploma da 5ª série do ensino fundamental. A meta do projeto,
idealizado pela engenheira civil Deise Gravina, é capacitar mais 300 mulheres
até 2013.
Depois de capacitadas, as pedreiras começam a experimentar outra realidade.
“Já começam na função de meia-oficial (uma patente maior que a de serventes e
ajudantes de obras) e podem rapidamente chegar a encarregadas de turma”, informa
a coordenadora do curso sobre os salários de R$ 900 a R$ 1.500.
Flávia Salme, iG Rio de Janeiro
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